terça-feira, 21 de abril de 2009

MEU CAMARADA E AMIGO

Imagem retirada da internet
Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo e redigo meu camarada e amigo
As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.
É por dentro desta selva
desta raiva
deste grito
desta toada
que vem dos pulmões
do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
Meu camarada e amigo.
Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram os ossos
que estão doendo àqueles que não falaram.
Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
— mas um poeta só fala
por sofrimento total!
Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.
Ary dos Santos, in 'Resumo'

16 Comentários:

Blogger São disse...

Abril, sempre.
E gostei de aqui encontrar o Ary!
Bem hajas, companheira!

21 de abril de 2009 às 12:26  
Blogger Agulheta disse...

Que bonito Abril aqui veio,nas palavras de Ary,eu adoro os poemas dele,mas se encontram tão poucos?.
Beijinho e bela escolha.

Lisa

21 de abril de 2009 às 16:12  
Blogger amigona avó e a neta princesa disse...

É o Ary e está tudo dito! Obrigada por partilhares connosco, amiga...abraço...

21 de abril de 2009 às 21:08  
Blogger Maria disse...

Todos os poemas do Ary são belos.
Há uns mais belos que outros... Este é um deles. E vai aparecer mais vezes por aí, estou certíssima...

Um beijo, Maria Faia

21 de abril de 2009 às 22:29  
Blogger Elvira Carvalho disse...

Pena que passados todos estes anos, se Ary fosse vivo iria continuar a não se rever neste país.
Um abraço

21 de abril de 2009 às 23:32  
Blogger Carminda Pinho disse...

Excelente poema do Ary.
Não conhecia este. Obrigada pela partilha.

Beijos

22 de abril de 2009 às 00:21  
Blogger São disse...

Minha querida, por favor vai buscar a tua oferta ao Compagnon de Route, sim?
Uma serena noite junto aos teus.

22 de abril de 2009 às 01:15  
Blogger Alexa disse...

Abril sempre com Ary no coração
belissima escolha

um beijo

22 de abril de 2009 às 05:07  
Blogger poetaeusou . . . disse...

*
Desespero
,
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.
,
in-Ary dos Santos
,
arv sempre !!!
,
maresias daqui, deixo,
,
*

22 de abril de 2009 às 10:21  
Blogger Alexa disse...

Com Abril no coração Ary dos Santos doce saudade, fica completo
è lindo o poema.
um beijo

22 de abril de 2009 às 10:33  
Blogger José Lopes disse...

Abril e Ary dos Santos, uma combinação muito agradável e necessária para que a memória não se perca.
Cumps

22 de abril de 2009 às 16:51  
Blogger Maria Clarinda disse...

Quem melhor que Ary para cantar e escrever Abril?
Jinhos muitos

23 de abril de 2009 às 10:11  
Anonymous Anónimo disse...

Um prazer receber a tua visita, e bastantante emocionada com as palavras que deixáste.
Obrigada, Maria Faia.

Um poema de Ary... é como um rosário de pérolas incandescentes.

Boa escola minha amiga!!

Abril, sempre!!!

Beijos.

23 de abril de 2009 às 12:07  
Blogger O Profeta disse...

Abril, águas tantas...revoluções...


Doce beijp

23 de abril de 2009 às 14:39  
Blogger Meg disse...

Maria Faia,

Falar no Ary dos Santos é recordar o 25 de Abril. Eles estão intimamente ligados pelas palavras que nos deixou e que estão espalhadas, mais uma vez, por um grande número de blogs.
Recordemos o poeta, minha amiga.

Um abraço

23 de abril de 2009 às 19:29  
Blogger Mário Margaride disse...

Uma grande homenagem, a um grande poeta, e um grande homem!

Ary dos Santos, nunca morre. Está bem vivo dentro de nós, daqueles que lutaram, e amam a liberdade!

Beijinhos grandes

Mário

24 de abril de 2009 às 01:44  

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