quarta-feira, 12 de setembro de 2007

BALADA DE NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva?
Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco,
há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate,
assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,
mal se sente?
Não é chuva,
nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver.
A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve,
branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e,
quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos,
doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
in: Augusto Gil

9 Comentários:

Blogger papagueno disse...

Um poema bem velhinho, daquelas baladas que nos ensinavam desde pequeninos. Um beijo

12 de setembro de 2007 às 16:45  
Blogger Isamar disse...

Um poema que sabe sempre bem recordar.
Remonta-nos para outro tempo. O Inverno está quase aí.
Beijinhos

12 de setembro de 2007 às 17:05  
Anonymous Anónimo disse...

Querida Maria Faia,
Após alguns dias de ausencia... voltou em beleza!
Reler este poema é sempre agradável, pois parece-me sempre a primeira vez.
Quase conseguimos visualizar a maravilha da Mãe Natureza!
Tem tambem o seu quê de inquietante, pois fala e questiona o sofrimento daquilo que adoro, que são as crianças.
Como cantava o meu amigo Zé, quando andavamos pelos bairros degradados, ou o nome mais comum "bairros de lata":

Nós as crianças,
queremos brincar,
em Paz sem guerra,
em qualquer lugar!
Queremos brincar ao Sol,
como uma flor,
Nós as crianças,
Queremos Amor!

Muitos beijinhos e continuação de uma boa semana.

12 de setembro de 2007 às 17:19  
Blogger António Inglês disse...

Bom regresso maria faia, bom regresso
e que venha com o coração cheio de vontade para repartir e para viver
A vida precisa de si e muitos haverão que não a dispensam por isso minha amiga nunca se esqueça:
..." a vida é bela, a gente é que lixa ela"...
É um palavreado um tanto brejeiro mas foi o que me ocorreu...
Beijinhos
José Gonçalves

12 de setembro de 2007 às 18:46  
Blogger António Inglês disse...

esqueceu-me...
veja lá se arranja tempo para visitar os amigos que já sentem a sua falta.
José Gonçalves

12 de setembro de 2007 às 18:47  
Blogger avelaneiraflorida disse...

Amiga Maria Faia,

sei este poema de cor desde os "velhos" tempos de liceu! Èramos OBRIGADAS a decorar este e outros, muitas mais ...
Este sempre me tocou especialmente!!! Sempre me acompanhou! e ainda hoje o partilho com os meus "besouros"...
EXCELENTE RECORDAÇÂO!!!!
BJKS

12 de setembro de 2007 às 20:15  
Anonymous Anónimo disse...

Bela escolha Amiga.
Um Grande Kiss

12 de setembro de 2007 às 22:59  
Blogger Lusófona disse...

»»Cai neve na natureza e cai no meu coração«« achei tão melancólico... sabe, maria, eu fico assim no inverno..não gosto nada...

Beijinhos

15 de setembro de 2007 às 17:18  
Blogger Verena Sánchez Doering disse...

me encanto este poema, esta muy lindo
siempre cosas bellas aqui
que estes muy bien amiga y mil besitos
un abrazo muy grande


besos y sueños

17 de setembro de 2007 às 01:02  

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