"A Páscoa sempre representou a passagem de um tempo de trevas para outro de luzes, isto muito antes de ser considerada uma das principais festas da cristandade.
A palavra "páscoa" – do hebreu "peschad", em grego "paskha" e latim "pache" – significa "passagem", uma transição anunciada pelo equinócio de primavera (ou vernal), que no hemisfério norte ocorre a 20 ou 21 de Março e, no sul, em 22 ou 23 de Setembro.
De facto, para entender o significado da Páscoa cristã, é necessário voltar à Idade Média e lembrar dos antigos povos pagãos europeus que, nesta época do ano, homenageavam Ostera, ou Esther – em inglês, Easter que quer dizer Páscoa.
Ostera (ou Ostara) é a Deusa da Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um coelho, símbolo da fertilidade, pulando alegremente em redor de seus pés nus. A deusa e o ovo que carrega são símbolos da chegada de uma nova vida. Ostara equivale, na mitologia grega, a Persephone. Na mitologia romana, é Ceres.
Os pássaros estão cantando, as árvores estão brotando. Surge o delicado amarelo do Sol e o encantador verde das matas.
A celebração de Ostara, comemora a fertilidade, um tradicional e antigo festival pagão que celebra o evento sazonal equivalente ao Equinócio da primavera.
Algumas das tradições e rituais que envolve Ostara, inclui fogos de artifícios, ovos, flores e o coelho.
Ostara representa o renascimento da terra, muitos de seus rituais e símbolos estão relacionados à fertilidade.
Ela é o equilíbrio quando a fertilidade chega depois do inverno. É o período que a luz do dia e da noite têm a mesma duração.
Ostara é o espelho da beleza da natureza, a renovação do espírito e da mente. Seu rosto muda a cada toque suave do vento. Gosta de observar os animais recém-nascidos saindo detrás das árvores distantes, deixando seu espírito se renovar.
Ostara foi cristianizada como a maior parte dos antigos deuses pagãos.
Os símbolos tradicionais da Páscoa vêm de Ostara.
Os ovos, símbolo da fertilidade, eram pintados com símbolos mágicos ou de ouro, eram enterrados ou lançados ao fogo como oferta aos deuses.
É o Ovo Cósmico da vida, a fertilidade da Mãe Terra.
Ostara gosta de verde e amarelo, cores da natureza e do sol.
O Domingo de Páscoa é determinado pelo antigo sistema de calendário lunar, que coloca o feriado no primeiro Domingo após a primeira lua cheia ou seguindo o equinócio.
A Páscoa foi nomeada pelo deus Saxão da fertilidade Eostre, que acompanha o festival de Ostara como um coelho. Esta a razão do o símbolo do coelho de páscoa na tradição cristã. O coelho é também um símbolo de fertilidade e da fortuna.
A Páscoa foi adaptada e renomeada pelos cristãos, do feriado pagão Festival de Ostara, da maneira que melhor lhes convinha na época como a tradição dos símbolos do Ovo e do Coelho.
A data cristã foi fixada durante o Concílio de Nicéa, em 325 d.C., como sendo "o primeiro Domingo após a primeira Lua Cheia que ocorre após ou no equinócio da primavera boreal, adoptado como sendo 21 de Março.
A festa da Páscoa passou a ser uma festa cristã após a última ceia de Jesus com os Apóstolos, na Quinta-Feira Santa.
Os fiéis cristãos celebram a ressurreição de Cristo e sua elevação ao céu. As imagens deste momento são a morte de Jesus na cruz e a sua aparição. A celebração sempre começa na Quarta-feira de cinzas e termina no Domingo de Páscoa: é a chamada Semana Santa.
Para entendermos a Páscoa cristã, vamos, sinteticamente, buscar sua origem à festa judaica de mesmo nome.
O ritual da Páscoa judaica é apresentado no livro do Êxodo (Ex 12.1-28). Com essa festa, a mais importante do calendário judaico, o povo celebra o facto histórico da sua libertação da escravidão do Egipto acontecido há 3.275 anos, cujo protagonista principal foi Moisés no comando de seu povo pelo mar vermelho e deserto do Sinai.
O evento ÊXODO/SINAI compreende a libertação do Egipto, a caminhada pelo deserto e a aliança no monte Sinai (sintetizado nos dez Mandamentos dados a Moisés).
De evento histórico torna-se evento de fé.
A passagem do mar vermelho foi lembrada como Páscoa e ficou como um marco na história do povo hebreu.
Todos os anos, na noite de lua cheia de primavera, os hebreus celebravam a Páscoa, com o sacrifício de cordeiro e o uso dos pães ázimos (sem fermentos), conforme a ordem recebida por Moisés (Ex 12.21.26-27; Dt 12.42). Era uma vigília para lembrar a saída do Egito (forma pela qual tal facto era passado de geração em geração – Ex 12.42; 13.2-8).
Essa celebração ganhou também dimensão futura com o passar do tempo. E quando novamente dominados por estrangeiros, celebravam a Páscoa lembrando o passado, mas pensando no futuro, com esperança de uma nova libertação, última e definitiva, quando toda escravidão seria vencida, e haveria o começo de um mundo novo há muito tempo prometido.
A celebração da Páscoa reunia três realidades distintas:
passado: o acontecimento histórico da libertação do Egipto quando Israel se tornou o povo de Deus;
presente: a memória ritual (=celebração) do facto passado levava o israelita a ter consciência de ser um ‘libertado’ de Javé (=Deus), não somente os antepassados, mas o sujeito de hoje (Dt 5.4);
futuro: a libertação do Egipto era símbolo de uma futura e definitiva libertação do povo de toda a escravidão. Libertação esta que seria a nova Páscoa, marcando o fim de uma situação de pecado e o começo de uma nova era.
Jesus oferecendo seu corpo e sangue assume o duplo sentido da páscoa judaica: sentido de libertação e de aliança. E ao celebrar a Páscoa (Mt 26,1-2.17-20), Ele institui a NOVA PÁSCOA, a Páscoa da libertação total do mal, do pecado e da morte numa aliança de amor de Deus com a humanidade.
A nova Páscoa não era uma libertação política do poder dos romanos, como os judeus esperavam.
Poucos entenderam que o Reino de Deus transcende o aspecto político, histórico e geográfico.
Hoje, ao celebrarmos a Páscoa, não o fazemos com sacrifício do cordeiro e alimentando-nos com pães sem fermento, pois Cristo deu-se em sacrifício uma vez por todas (Jo 1.29; 1Cor 5.7; Ef 5.2; Hb 5.9), como Cordeiro Pascal, como prova e para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime."
Autoria: José Luiz C. Duarte