sexta-feira, 6 de julho de 2007

SENTIR DE MULHER...

Hoje lembro duas MULHERES marcantes da cultura e sociedade portuguesa que, pela sua rectidão e conduta, continuam e continuarão a constituir referências de valor do meu querido Portugal.
Pela universalidade dos seus valores, escolho para elas a rosa de porcelana africana, símbolo de fortaleza. doçura e rectidão.
Não soubéssemos nós que a busca se interrompeu, e diríamos que Sophia continua a sonhar o que sempre desejou:
"Um país liberto,
Uma vida limpa,
Um tempo justo.
A voz suave, as palavras quase sussurradas, as imagens que dizem a casa e o mar, tudo é simples nela:
"É então que se vê o passar do silêncio
Navegação antiquíssima e solene
Não é só o mundo grego que exprimem estas palavras.
É também, e talvez até, anterior a tudo mais, a consciência da navegação do eu:
"Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca um navio da costa se afastou sem me levar"
Mas, de repente, a sua palavra faz-se denúncia e a menina do mar torna-se violenta nas palavras:
"Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras"
Em Sophia, a palavra faz a pessoa, molda o povo, trás com ela história e sonho. Não hesita em dizer que:
"De longe muito longe
O homem soube de si pelas palavras
E nomeou a pedra, a flor, a água.
E tudo emergiu porque ele disse"
A criação aqui não é só uma metáfora mas a própria maneira de ver o mundo. Por isso, a denúncia se torna mais instante:
"Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra"
A palavra que faz o homem, desfaz também a sua própria criação. Por isso, Sophia retoma a esperança que a habita, mesmo nos momentos em que tudo parece soçobrar. Por isso, o seu acto de fé:
"E os poemas serão o seu próprio ar
Canto do ser inteiro e reunido
Tudo será tão próximo do mar
Como o primeiro dia conhecido"
O ser inteiro e reunido contém em si uma convicção filosófica que vai depois enriquecer toda a experiência. Por isso, no caminho da interrogação e da busca, Sophia pode afirmar:
"Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco"
Poeta rara do século XX, (comparável talvez a Marguerite Youcenar e a Nathalie Sarraute), Sophia é ao mesmo tempo o dom e a beleza absoluta.
Maria de Lourdes Pintasilgo
in: "Mil Folhas" - suplemento do Público - 17 de Julho de 2004

18 Comentários:

Blogger avelaneiraflorida disse...

Parabéns!!!!!
Lindissima Homenagem!!!!!

E adorei conhecer a rosa africana!

Posso "rapinar" para o meu cantinho, possso?????

Bjks

7 de julho de 2007 às 10:14  
Blogger Maria Faia disse...

Amiga Avelaneira,

Claro que pode "rapinar" a rosa africana para o seu cantinho.
Leve-a com carinho e amizade.

Um Fim de Semana Feliz para si.

7 de julho de 2007 às 11:05  
Blogger António Inglês disse...

Bom dia maria faia

Merecida homenagem a duas mulheres que marcaram e bem épocas do nosso País.
Mas a minha homenagem ainda vai mais longe, vai para todas as mulheres porque de uma forma ou de outra todas marcaram a vida de alguém.
Um abraço
José Gonçalves

7 de julho de 2007 às 12:27  
Anonymous Anónimo disse...

Amiga mariafaia,

Excelente escolha para esta Homenagem...
Mulheres que marcaram e marcam ainda hoje o nosso dia a dia!
Tenho a Sophia como autora de um dos meus livros de cabeçeira.
Beijinhos

7 de julho de 2007 às 16:05  
Blogger papagueno disse...

E que belo sentir tinham estas senhoras.
Bjs

7 de julho de 2007 às 18:29  
Anonymous Anónimo disse...

Linda escolha amiga.
Grande mulher.


Um Grande Kiss Amiga

7 de julho de 2007 às 22:55  
Blogger Lúcia Duarte disse...

Obrigado Maria por partilhar connosco estes momentos deliciosos.
que esta rosa lhe traga força, muita força para conseguir continuar, na vida, com essa sensibilidade

8 de julho de 2007 às 02:41  
Blogger De Amor e de Terra disse...

Parabéns! Muito belo!!!


Um beijo da
Maria Mamede.

8 de julho de 2007 às 07:55  
Blogger Maria Faia disse...

Olá Amigo José Gonçalves,

É merecida e sentida a homenagem.
Foram e permanecerão Mulheres de corpo inteiro.

Beijinhos

8 de julho de 2007 às 10:22  
Blogger Maria Faia disse...

Olá Aramis,

Cada uma ao seu estilo, marcaram, de facto, a nossa geração.
Uma pela via da Literatura e outra pela da intervenção social e política, ambas deram de si antes de pensar em si.
A Maria de Lurdes Pintassilgo representou Portugal na Organização das Nações Unidas em 1971 e, em 1974, viveu a Revolução de Abril com entusiasmo, tendo sido secretária de Estado da Segurança Social do Primeiro Governo Provisório. Devido à crise política instalada, foi convidada pelo presidente da República António Ramalho Eanes para o cargo de primeiro-ministro, que exerceu durante cem dias, em 1979. Só mesmo uma Mulher de Coragem e Fé aceitaria, naquele tempo e naquelas condições, o exercício das funções públicas que lhe foi pedido.

Um abraço

8 de julho de 2007 às 10:29  
Blogger Maria Faia disse...

É verdade Papagueno,

Não eram, não foram "coqueluches", mulheres cegas e/ou submissas a "senhores".
Viveram, com dignidade e verdade, uma vida inteira de entrega à causa pública, sem medos nem receios.
Infelizmente, ainda há quem pense e diga que a política e a intervenção não são "femininas"...
Mentalidades de submissão que, decerto, acabarão.

Abraço

8 de julho de 2007 às 10:34  
Blogger Maria Faia disse...

GRANDES Mulheres Amigo Ludovicus.

E fica tudo dito, certo?

Beijinho para ti e...
BOM DOMINGO

8 de julho de 2007 às 10:35  
Blogger Maria Faia disse...

Olá Amiga Lúcia,

Antes de mais, tenho que lhe pedir desculpa por não ter ido, ainda, buscar os documentos que tem para mim. A minha vida profissional é, por vezes, esgotante e o tempo não dá para tudo.

Obrigado Amiga pelo seu carinhoso comentário. Foram, na verdade, duas Mulheres que mereceram, e continuam a merecer, todo o nosso respeito e admiração.
Quem dera que todas assim fôssemos...

Beijinho

8 de julho de 2007 às 10:39  
Blogger Maria Faia disse...

Bom Dia Maria Mamede,

Obrigado pela sua visita. É sempre um enorme prazer vê-la neste cantinho simples e singelo, de desabafos e partilha.

Beijinhos

8 de julho de 2007 às 10:46  
Blogger Lúcia Duarte disse...

olá maria
não precisa pedir desculpa, eu sei que tem muito trabalho.
os papéis estão cá, quando consegguir um tempinho... apareça!

8 de julho de 2007 às 21:53  
Blogger MARA CARVALHO (pseudónimo) disse...

Maria Faia,

Parabéns pela bela homenagem a duas mulheres que sempre admirei e a quem nunca deixarei de prestar o meu tributo.
Mulheres há muitas, se bem que nem todas mereçam ser referidas com maiúsculas.
Mas em relação a estas duas, só posso levantar a minha taça e brindar à sua memória porque realmente marcaram pela diferença!

Um abraço

9 de julho de 2007 às 16:58  
Blogger Maria Faia disse...

Amiga Lúcia,

Obrigado pela sua compreensão.
Quando tiver um tempinho passarei por aí.

Beijo

9 de julho de 2007 às 17:08  
Blogger Maria Faia disse...

Querida amiga Mara,

Tem razão. Estas sim, foram Mulheres com letra maíscula. Muitas mais destas seriam necessárias mas, infelizmente, muitas de nós só olham para o seu umbigo...

beijo

9 de julho de 2007 às 17:10  

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