POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL
“As transformações sociais e económicas ligadas ao processo de industrialização quebram o encanto liberal da sociedade de “infinitamente pequenos, homogénea e pacífica”.
A industrialização e o progresso técnico tiveram como consequência a deslocalização dos povos rurais para as cidades, à procura de trabalho, criando-lhes ritmos acelerados de vida, desenraizamento de espaços e tempo e, particularmente, uma dependência de grupos até aí desconhecida.
“Revelam-se as diferenças mal escondidas e, com a divisão do trabalho, os interesses multiplicam-se ainda mais entre si, uns contra os outros, procurando a melhor posição num mundo social sem lugares marcados e em movimento contínuo. Começam a exigir-se ao Estado novas posturas de intervenção e regulação da vida social. A paz social já não se reduz à ordem nas ruas, antes pressupõe e responsabiliza o Estado na caminhada para um Bem-Estar susceptível de medida, com base nos critérios de determinação do futuro que os conhecimentos técnicos vão propiciando”.
A organização social tradicional alterou-se. Nascem então novos conceitos, novas necessidades sociais, como sejam “ a justiça social” ou “ a sociedade sem classes”. É o advento de uma nova categoria de direitos, os “direitos a prestações”. É o caso dos direitos sociais à habitação, à saúde, ao trabalho e à educação, entre outros.
Nas últimas décadas, a sociedade portuguesa tem sentido profundas transformações, de que se pode destacar o crescimento das áreas e populações urbanas, o abandono e, por vezes, quase desertificação das zonas rurais, o desenvolvimento da indústria e dos serviços, a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, a melhoria dos sistemas de protecção social e de saúde e, em consequência dos próprios indicadores de saúde e envelhecimento da população que ocorre a um ritmo bastante rápido.
As noções de pobreza, desfavorecimento, reinserção e exclusão não são novas, mas é nos finais da década de oitenta que assumem maior relevo político e social.
Este fenómeno reflecte a tomada de consciência colectiva dos fenómenos sociais que afligem as sociedades contemporâneas, nomeadamente que o reconhecimento de que o crescimento económico, mesmo nos países mais desenvolvidos, não implica a erradicação automática da pobreza e favorece processos de afastamento da esfera produtiva de indivíduos e populações menos qualificadas e o concomitante surgimento de novas formas de pobreza, bem como a vulnerabilização de novos grupos sociais.
O conceito de exclusão social deve ser entendido a partir da existência de um conjunto de direitos e deveres normativamente inscritos nas estruturas sociais e plasmados em códigos normativos que expressam os grandes consensos que fundam os compromissos entre os membros de um qualquer sociedade. É esse conjunto de direitos e deveres que conferem às pessoas o estatuto de cidadãos e, é o facto de nem todos os cidadãos beneficiarem desse estatuto que dá sentido ao conceito de exclusão social.
Entre estes direitos e deveres surgem o direito ao trabalho, ao rendimento autónomo, à educação, à cultura, aos cuidados de saúde, à protecção e participação social e cívica.
Produzem-se situações de exclusão social porque a sociedade não oferece a todos os seus membros a possibilidade de beneficiar de todos os direitos nem de cumprir alguns dos deveres que lhes estão associados, ou seja, é produto de processos sociais, entre os quais sobressai a dificuldade temporária ou prolongada de acesso ao mercado de trabalho, e também de processos subjectivos que dizem respeito à forma como as pessoas excluídas vivenciam a sua condição de excluídas, reagindo perante o estatuto desvalorizado que lhes é imposto e desenvolvendo formas de adaptação às situações com que são confrontadas. Daqui resulta o facto de as pessoas desfavorecidas “perderem” o estatuto de cidadania plena, ou seja, de se verem impedidas de participar nos “normais” padrões de vida da sociedade.
A noção de pobreza refere-se, sobretudo, a uma das dimensões da existência mais determinantes dos processos de produção e reprodução da exclusão social: a das deficientes condições materiais de existência, ou da insuficiência de recursos de ordem económica, social ou cultural.
Naturalmente a pobreza tende a produzir “culturas de pobreza”, correspondentes às maneiras de ser, fazer e sentir das pessoas, famílias ou grupos sociais cujos recursos escassos não lhes permitem viver segundo os padrões normativamente definidos como normais pela sociedade ou que não lhes permitem assegurar a subsistência e eficiência física.
Torna-se difícil definir um conjunto de circunstâncias a partir do qual um grupo de pessoas pode considerar-se “desfavorecido”.
A noção de grupos sociais desfavorecidos implica decidir se devemos cingir-nos à ausência de condições de entrada ou permanência no mercado de trabalho, sem dúvida um aspecto fulcral, ou considerar de forma articulada o vasto conjunto de questões sociais, políticas e culturais que também contribuem para a emergência dos fenómenos de situações desfavorecimento.
Demos todos as mãos na luta contra a pobreza e a exclusão social.
Maria Faia - Março 2007
11 Comentários:
Magnífico artigo minha amiga. De facto esta nossa sociedade padece de muitos males como tu bem os descreves
Façamos algo. Pelo menos tentemos...
Kiss
Magnífico artigo minha amiga. de facto a nossa sociedade padece de vários problemas como tu bem os descreves. Façamos algo, pelo menos tentemos...
Grande Kiss
Meu Bom Amigo Ludovicus,
Voltaste ao "podium" do 1º lugar. E, ainda por cima com dois comentários...
Façamos algo sim.
FALAR SÓ NÃO CHEGA.
Beijo
Parabéns pelo texto! Não concordo porém com a sua definição algo "cultural" de pobreza. Penso que os mais pobres são aqueles que não tên liberdade (de escolha, de expressão, etc.). E que por isso vivem uma vida indigna. Quanto à questão social tenho muitas reservas, pois tem sido em nome de uma pretensa "igualdade" material que se têm cometido os maiores erros (em África, por exemplo....). Robert Kurz tem razão nesse aspecto, e penso que deveríamos lê-lo com mais atenção.
Tem aqui alguns textos que acho que vale a pena ler...
Abraço,
Valdemar
http://www.geocities.com/grupokrisis2003/robertkurz.htm
Não é pobre quem quer!!!!
Costumo lembrar aos meus "besouros" os silos cheios de trigo que eram guardados, em países africanos, pelos poderes instituídos...e não eram distribuídos pela população!!!
Também lhes lembro que quando "damos" algo a alguém, nunca é, ou raramente é, algo que compremos para o efeito!!! Damos o que já não nos serve, o que está gasto, o que não gostamos, o que está no fim do prazo!!!!
Mas quando recebemos...queremos as coisas em BOM ESTADO e de Preferência...AS MELHORES!!!!
Quanto às campanhas, SIM! Mas RESPONSABILIDADE, RIGOR, de quem distribui é muito importante!!!! Porqu sem isso a INJUSTIÇA crescerá...
Bkjs, Maria Faia
O Estado regulador não existe e portanto vivemos sob a lei do mais forte. Este texto está magnífico e aborda alguns aspectos (maus) da sociedade infeliz em que vivemos.
Parabéns
Cumps
Olá Maria Faia; muito bem Amiga, muito bem mesmo...descreves com
perícia o que lamentavelmente vem acontecendo!
E realmente há que dar as mãos por um futuro melhor. Aqui está a minha!!!
Um beijo enorme da
Maria Mamede
Companheira de luta! Que belo post! Uma leitura correta da realidade vista à olhos nus, de que o modelo econômico adotado pelas potências mundiais, é excludente e chagático.
Parabéns!!!
amiga maria faia
Combater a pobreza e a exclusão social é um dever de todos nós.
Gostava de poder responder de outra forma mas hoje não estou nos meus dias. Isto há-de melhorar.
Beijinhos
José Gonçalves
As verdades vêm sempre ao de cima...é pena que ninguém faça nada, que continue tudo na mesma... descultem... correcção...é pena que cada vez se agrave mais a situação económica, politica e social deste nosso pequeno país...pobreza, exclusão social...muito bem...lindo tema para ser discutido mas é pena que seja por muito poucas pessoas...
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