segunda-feira, 22 de junho de 2009

OBRIGADO ISABEL...

A Amiga Isabel do Com Calma... Com que Alma distinguiu o Querubim Peregrino com mais um galardão que aceitei com humildade e muita honra - o prémio internacional " UTOPIE CALABRESI ".
O Prémio Internacional UTOPIE CALABRESI inspira-se nos valores do Humanismo, entendendo-se por isso “tudo o que é digno do homem e o torna civilizado, elevando-o acima da barbarie”.
Este “selo” foi criado com o objectivo de premiar os blogs que promovem conhecimento livre, cultura e arte, tolerância e aceitação da diferença, amizade e solidariedade entre os povos.
Quem recebe o Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI e o aceita deve:
- visitar o blog UTOPIE CALABRESI, http://utopiecalabresi.blogspot.com/,
- clicar na imagem do prémio colocada na homepage e deixar um comentário sobre o Humanismo;
- escolher 5 outros blogs a quem entregar o prémio;
- linkar o blog pelo qual recebeu;
- exibir a imagem».
Porque neste espaço blogosférico tenho encontrado vários(as) Amigos(as) que, ao invés de mal dizer sistemático aproveitam o seu tempo para partilhar cultura, trocar opiniões, defender valores e causas colectivas, promover o Humanismo e o bem-estar entre os demais, ofereço-lhes este prémio, com o maior respeito e admiração.
Não lincarei pois apenas 5 blogs porquanto, justiça seja feita, conheço mais do que 5 blogs ou blogers que "encaixam" perfeitamente no perfil deste prémio e, verdade seja dita, gostaria de o oferecer a todos eles.
Assim, convido os meus Amigos e Amigas que se reconhecem no perfil do Prémio UTOPIE CALABRESI que o aceitem com o mesmo carinho com que o transmito e procedam de acordo com as suas regras, acima enunciadas.
Por fim, o meu muito OBRIGADO à minha querida Amiga Isabel, com muita estima e Amizade e, as minhas desculpas por não ter seleccionado somente os cinco.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O COLO GRANDE DA TIA PRETA

Lisete Baessa - A Tia Preta de Chelas
" Num blogue, após assistir a um documentário na RTP2 sobre ela, alguém lhe chamou "o anjo de Chelas".
Difícil explicar o que faz: acolhe crianças, pode-se dizer.
Antes, passavam o dia na rua, partiam o bairro, metiam-se em sarilhos. Com ela mudaram. Porquê, difícil dizer. Ela diz que é amor, eles dizem que seja o que for que ela fez e disse mudou tudo. Ao ponto de os fazer desejar "uma vida normalmente"
Das cinco à meia-noite, a casa enche.
Qual será o segredo?
Tem cinco anos e uma colher de pau na mão. Ao princípio não fala, envergonhado, meio escondido no colo da "tia preta". Brinca com uma colher de pau, a "sete e quinhentos".
A sete e quinhentos, assim crismada, é o instrumento disciplinador da casa, mais o "banco do mocho", uma pedra grande junto à entrada onde os culpados se sentam de castigo.
São a pontuação das regras - e há muitas - que estabelecem a ordem no pequeno T2 de Chelas onde, por vezes, chegam a coincidir duas dezenas de crianças e adolescentes.
Hoje são menos, uns 10 (estão sempre a entrar e a sair), entre os 17 e os cinco anos.
Como ele, o da colher de pau, sem mãe desde os 15 dias.
Vive com o pai, uma avó e os irmãos mais velhos mas é aqui, na casa de Lizete Baessa, a "tia preta", que passa grande parte do dia. É aqui que lancha (e lancha agora uma tigela de cereais com leite, servida pelo Niná, o mais velho do grupo, frequentador da casa há quatro anos) que janta, que vê televisão, que brinca com o puzzle que trouxe de casa.
É aqui que aprende a pedir por favor e a dizer obrigado, a cumprimentar as visitas, a fazer a sua parte nas tarefas domésticas, a cumprir os deveres da escola.
"Os miúdos entram em minha casa e há uma escala de serviço. Eles acatam com uma grande facilidade as minhas regras. Sabem que quando digo que não é não, sim é sim. Não há talvez. A única coisa que eles dizem é 'com a tia pode-se conversar'. E sabem que quando se portam mal os ponho de castigo. Tenho crianças que têm várias personalidades. Quando estão comigo são uma coisa, com os pais insultam os pais, batem nos pais. Tenho dos recém nascidos aos 18 anos...
"Tem crianças, diz. Chama-lhes "os meus meninos".
Um destes dias, um menino de três anos que vive no mesmo prédio entrou-lhe pela casa dentro e anunciou: "Agora sou teu filho".
Sorri, um sorriso encantado. "Filhos, filhos nunca tive. Já criei um miúdo que os meus sobrinhos descobriram a viver na rua, ali junto à fonte luminosa, aos 13 anos. Tinha-se zangado com a família. Trouxe-o para casa e ele ficou. Dizia que não tinha mãe."
No quarto, fotos do menino agora homem casado, com a mulher, rivalizam com a espécie de altar que guarda a do pai, na entrada da casa.
Pedro Baessa, o primeiro e único negro deputado na Assembleia Nacional de Salazar, um moçambicano com seis filhos dos quais Lizete foi a mais nova.
"Vim para Portugal em 1967, com 14 anos. Meteram-me num colégio interno, detestei.
Estava habituada à liberdade de África, a uma casa cheia de gente...
Foi com os meus pais que aprendi a acolher os outros. A casa deles era um lar, era um colégio, era a pensão cá-te-quero. Cresci naquele ritmo, fiquei com aquela veia.
Gosto de dar sem receber nada em troca.
"Nada não será. Quando em Maio foi operada a um tumor no peito e ficou uma semana internada, uma senhora também do bairro que costuma ajudá-la a tomar conta dos miúdos ficou com eles esse tempo.
Ou seja, iam ter a casa dela, a "tia branca", em vez de à casa da tia preta.
"Não correu bem", diz Lizete. "Eles deram com ela em doida , portaram-se muito mal, e ela agora decidiu afastar-se um bocado".
Consciente de que o mau comportamento dos seus meninos não seria alheio ao medo de a perder - alguns, antes da operação, desapareceram, como se recusassem enfrentar a hipótese -, conta a história com um indisfarçado enlevo, o de quem reconhece que, afinal, recebe:
"Eles dão-me muito amor".
O milagre, se suave, não ocorreu sem escolhos.
"Esta gente tem muita falta de carinho. Ao princípio sofri um bocado porque não estavam habituados a receber atenção. As pessoas desconfiavam das minhas intenções, do que eu realmente quereria. Vieram-me pôr coisas aqui à porta: uma cabeça de galinha, pele de coelho, farinha, sal..."
O que fez? Meteu conversa com os miúdos, foi-se aproximando. E eles dela.
"Via-os por aí, na rua, fazia-me confusão estarem ali todo o dia. A escola é de vez em quando. É o estragar, o partir, o tratar mal, o não sei quê. Aqui encontram calor, amor...
"Más experiências? Abana a cabeça. "Às vezes temos uns arrufos. Mas eles voltam. E mudam. É tão bom vê-los mudar.
" Está aqui, na Flamenga, Chelas, há 14 anos. Um bairro, como se costuma dizer, "problemático".
"O que é que se entende por problemático? É quando a polícia cerca o bairro porque há quem venda droga? Nos bairros ditos não problemáticos não há problemas?".
Ela, diz, gosta. "Gosto, somos nós que fazemos os bairros. Em todos os sítios onde tenho passado tenho inclinação para dar um sorriso, alguma cor... Não tenho problema nenhum em dizer que vivo em Chelas. Vivo no Rock in Rio."
Ri. "E as pessoas dizem: e sais à rua sem problema nenhum? As pessoas têm a ideia que se dá um passo e eles matam, se olha e eles fulminam. Mas o bairro tem coisas boas. Há sempre alguém que ajuda, que dá a mão".
Também há o resto, claro: os elevadores escavacados, as portas partidas, o lixo atirado das janelas.
"Eles estragam onde vivem. É uma raiva de chamar a atenção. Estragam as próprias casas e depois esperam que venha alguém arranjar."
O apartamento minúsculo mas bem cuidado é seu - comprou-o à Gebalis, a empresa municipal que gere o bairro e à qual solicitou um espaço "para as crianças, onde possa fazer o que faço aqui, com mais condições".
Como não quer criar uma instituição ou sequer uma associação para o efeito, pediu a uma instituição católica da zona, a fundação Maximiliano Kolbe, para gerir os espaço - "Ficavam como entidade patronal".
Mas a coisa não arranca. "Um senhor quis ajudar, patrocinar, mas como é da igreja evangélica criou-se um sururu...
Tentei explicar que isto não tem nada a ver com religião, é um problema humano. Sou católica, mas que tem isso a ver?"
Agora, diz, como o "bispo evangélico" traz comida e dinheiro (dar de comer a tanta criança não sai barato), os párocos começaram a trazer também dádivas.
"Ainda ontem vieram trazer iogurtes, uma garrafa de óleo e trinta euros".
O "espaço" que falta é uma espécie de projecto de grupo.
Niná e a Bela, os mais crescidos, até estão a fazer um curso de "educação e formação". "Entramos com o sexto e acabamos com o nono ano", explica o Niná.
"E se houver o espaço podemos lá trabalhar. Experiência não nos falta."
Faz um gesto largo, risonho, sobre as crianças espalhadas na sala de 12 metros quadrados, e que lhe obedecem sem discutir.
A transição entre o rés-do-chão da ex-secretária (foi a sua profissão durante anos até que a doença determinou uma baixa prolongada e a aproximou, pela permanência, das crianças do bairro) e um lugar institucional poderá não ser tão óbvio ou fácil como Lizete Baessa parece crer.
Perder-se-á, decerto, o aspecto espontâneo desta obra - porque de uma obra se trata.
Talvez se ganhe na dimensão: "Há muito miúdo que se perde... Mas penso que sem isto se perderiam muitos mais.
Convido-os a vir, fazer esta casa como sua.
Mas digo: 'não te obrigo, quando não quiseres não vens'. Eles vêm porque querem. Há calor humano, há amor. Eles não têm e os pais também não tiveram nem têm para dar.
E buscam a tia preta."
Autoria: Fernanda Cancio
In: Diário de Notícias - 13 de Dezembro de 2008

terça-feira, 2 de junho de 2009

AMIGO APRENDIZ

Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...
Autor: Fernando Pessoa